Na manhã desta quinta-feira, 14 de março, o Parque Zoobotânico Mangal das Garças realizou, em parceria com a Universidade Federal do Pará, o workshop: Manejo Reprodutivo de Quelônios Amazônicos. Participaram do workshop estudantes de biologia, que acompanharam de perto a rotina de projetos de pesquisa realizados no Parque.
O Mangal possui exemplares das principais espécies de quelônios encontradas na região amazônica que são: a Muçuã ou Jurará (Kinosternon scorpioides), a Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa), o Tracajá (Podocnemis unifilis) e a Aperema ou perema (Rhinoclemmys punctularia), sendo este último o objeto de estudo realizado por pesquisadoras do Laboratório de Reprodução Animal, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), no Parque Zoobotânico.
“Realizamos um trabalho de observação da reprodução da perema em cativeiro aqui no Mangal desde fevereiro de 2023, e já colhemos muitos frutos. Decidimos repassar um pouco deste conhecimento por meio de um workshop, que iniciamos ontem, com uma atividade mais teórica na própria Universidade, e hoje trouxemos os alunos para vivenciar na prática, aqui no Mangal”, conta Diva Guimarães, que orienta o projeto de pesquisa.
Quem está à frente do projeto é a veterinária Dayse Cardoso, que realiza sua pesquisa de pós doutorado. “A ideia de trabalhar com a reprodução de peremas surgiu após observamos a falta de literaturas que mostrassem dados relativos à biologia desta espécie. Decidimos trabalhar em estudos sobre a biologia reprodutiva, como forma de contribuir para esse conhecimento, visto que também se trata de uma espécie de consumo pela população amazônida, e ainda não há uma legalização em termos de produção. Foi quando buscamos o Mangal como instituição parceira, e houve total receptividade e colaboração com nosso projeto. Aqui temos toda a infraestrutura necessária para acondicionar os animais, como o espaço, a manutenção, a disponibilidade dos técnicos, e a própria nutrição dos animais. Essa observação em habitat natural seria muito difícil”, revela.
Com mestrado em biodiversidade e conservação, e agora realizando sua pesquisa de doutorado, Brenda Braga explicou aos participantes do workshop como ocorre o processo de pesquisa. “Primeiro fazemos a parte de manejo de postura dos animais, observando as matrizes, que são as mães, e, a partir do surgimento dos ninhos, passamos a colher todos os parâmetros biométricos deles, depois fazemos toda a morfologia do ovo, para posteriormente levá-los ao incubatório e acompanhar o desenvolvimento embrionário. Todas as semanas pesamos os ovos e usamos uma lanterna acompanhar como esse embrião está se desenvolvendo dentro do ovo”, conta a pesquisadora.
“Gostei muito do workshop porque, além de complementar os conhecimentos que temos em sala de aula, também é importante ver na prática como funciona, não só o manejo do animal, mas também a sua reprodução, principalmente em quelônios, pois esses animais sofrem muita pressão da caça, tanto de indígenas, quanto da caça ilegal e por isso precisam de medidas que busquem conservar ou até manter em cativeiro para não que não sejam extintos”, considera Letícia Corrêa, que está cursando bacharelado em biologia na UFPA .
No Mangal, os quelônios recebem cuidados especiais pela equipe técnica desde antes do nascimento. Os ovos ganham proteção contra predadores, por meio de ninhos especiais com contenções confeccionadas a partir de bambus e telas de metal. Após o nascimento, os animais são inseridos em tanques, onde recebem alimento e permaneceram em observação até estarem aptos para irem à natureza.
Essenciais para o ecossistema amazônico, os quelônios são répteis extremamente ameaçados pela interferência humana. “Como o ciclo reprodutivo desses espécimes é considerado sensível, o qual exige cuidados especiais, iniciativas que fomentam o manejo e conservação são fundamentais”, destaca Basílio Guerreiro, biólogo do Mangal das Garças, que demonstrou aos alunos como realizar o correto manuseio de quelônios.
Texto: Beatriz Santos/Ascom Pará 2000